Os relatos de profissionais da saúde que estão na linha de frente da vacinação se repetem Brasil afora: as filas para receber o imunizante contra a Covid-19 começam a se dissipar quando as pessoas descobrem que não receberão uma dose da sua marca de preferência e, sim, de outro fabricante. Em Nova Serrana, de acordo com o coordenador do Centro de Vacinas do Município, Luiz Fernando de Almeida, a média é de 15 a 20 pessoas por dia que voltam pra casa quando percebem que a vacina ofertada não é a que escolheram. As justificativas passam pela dúvida sobre a eficácia ou sobre a segurança dessas vacinas – quase sempre instigadas por notícias falsas. E a fila da vacina, que deveria correr para frear a disseminação do vírus e o surgimento de novas variantes, começa a ficar mais lenta.
“Quando a vacinação começou não tinha escolha, porque todo mundo queria vacinar e a gente só tinha a Coronavac. Agora que começou a aumentar a quantidade de laboratórios, o pessoal começou a escolher. A mais escolhida é a Pfizer, por ser importada. Já as mais rejeitadas são AstraZeneca e Coronavac. As pessoas chegam lá, não é a vacina que elas esperam e culpam a equipe de vacinação. Agridem verbalmente a equipe, ficam chateadas e vão embora”, relata Almeida.
O coordenador explica que a regional de saúde de Divinópolis tem uma demanda do Estado, que por sua vez recebe do Ministério da Saúde, a ordem de distribuição das doses para diferentes grupos. “Por exemplo, a Pfizer, normalmente vem para gestantes. Pois ela e a Coronavac são as únicas que podem ser aplicadas em gestantes. Aí a população quer pegar a vacina da gestante, que é a Pfizer, para (aplicar em) outros grupos. Mas não podemos fazer com que essa logística aconteça, porque ela já vem encaminhada para determinado grupo”, explica. Segundo ele, no início a procura pela vacina era alta. Porém agora, a população parece estar perdendo o medo do vírus. “Gestantes e puéperas, por exemplo, a gente tem uma procura baixíssima, não vacinamos nem metade desse grupo e temos doses”, revela.
Até o fechamento desta edição, Nova Serrana havia aplicado 19.182 vacinas da primeira dose, 4.445 da segunda e 4 de dose única.
O coordenador conta que foi feita uma capacitação com toda a equipe da atenção básica de saúde, onde todos foram treinados e orientados quanto à aplicação, as rotinas da vacina e o que precisa ser feito. “No segundo passo a gente faz uma busca ativa dessas pessoas. Primeiro a gente divulga a vacinação, a medida que o grupo indicado não chega pra nós, é feita a busca ativa. A equipe da unidade básica de saúde busca aquele público-alvo. Vai na casa, orienta, procura saber porque não tomou, se quer tomar. Aí conseguem fazer o agendamento pra essas pessoas.”
Rebatendo a falsa ideia de que a vacina não é segura, a pesquisadora em Metodologia Científica, Nayara Santos faz questão de lembrar que nenhuma intervenção em saúde no mundo é 100% eficaz. Nem mesmo remédio ou cirurgia é 100%. “No caso das vacinas, a eficácia coletiva delas é o que mais importa. Isso significa que o efeito de todas as vacinas é visualizado quando observamos a população toda que foi vacinada, na redução de infecção, hospitalização e mortes. Um exemplo claro disso foi o estudo feito em Serrana, onde os pesquisadores perceberam que ao vacinar a população com a Coronavac conseguiram ter uma redução média de 80% nos casos sintomáticos (até mesmo em crianças e adolescentes que não foram vacinados), 86% nas internações e de 95% de mortes após a última dose do último grupo vacinado. Isso não significa que TODAS as pessoas vacinadas não têm chance nenhuma de vir a óbito pela Covid-19 (pensando de forma individual), mas, que ao visualizarmos a população como um todo, de forma coletiva, percebemos que a vacinação tem um impacto geral muito importante”.
Além disso, é necessário fazer uma reflexão histórica e observar como a vacinação aumentou a expectativa de vida dos brasileiros. “A vacinação coletiva como medida de saúde pública no Brasil aumentou em 30 anos a expectativa de vida entre 1940 e 1998. Felizmente temos um sistema público de saúde que nos fornece essa e outras vacinas de forma gratuita e essas vacinas têm tido impacto considerável há anos. Por que com a Covid-19 seria diferente? O argumento de que o tempo para desenvolvimento para a vacina foi curto não é válido, as tecnologias que temos hoje facilitam, e muito, o desenvolvimento das pesquisas de vacina. Dizer que não é possível desenvolver uma vacina segura em meses é como dizer que não é possível ir de Belo Horizonte para São Paulo em menos de 1 hora. Estamos comparando viajar de trem (vacina da caxumba desenvolvida em 1967) com viajar de avião (vacinas contra Covid-19 usando métodos atualizados e novas tecnologias em 2020). Se a justificativa das novas tecnologias para desenvolver vacinas não é relevante para essas pessoas, peguem a economia dos países que já vacinaram boa parte da população e vejam o quanto a porcentagem de vacinação da população está intimamente ligada ao retorno da economia. Temos que vacinar o máximo de pessoas possível com o menor tempo para que os impactos positivos na economia sejam sentidos em um menor prazo”, recomenda Santos.
A vacinação só irá diminuir os impactos do coronavírus se for pensada de forma coletiva. A médio prazo, para desafogar os hospitais e os leitos; a longo prazo, para trazer a imunidade de rebanho. Para explicar melhor, Nayara faz um paralelo com o pré-natal durante a gestação. “Ele é uma estratégia de saúde coletiva que tem como principal objetivo reduzir a morte da mãe e do bebê. Entretanto, mesmo com o pré-natal, ainda vão acontecer mortes de mães e de bebês, infelizmente. Mas, isso significa que o pré-natal é algo inútil e que não precisa ser feito, já que mesmo fazendo eu posso ter algo grave? Não. O pré-natal influencia de forma importante na qualidade da gestação da mulher (impacto individual), mas também impacta na redução das mortes materna e infantil (efeito coletivo). Ou seja, temos um impacto individual, mas também um considerável resultado coletivo, pela redução da taxa de mortalidade materna e infantil geral. A vacinação segue a mesma linha. As pessoas se vacinam e reduzem suas chances individuais de se infectarem, terem uma doença grave e morrerem. Mas, muito além disso, estão ajudando as taxas gerais de infecções, formas graves e óbitos a reduzirem. Quando eu me vacino eu estou me protegendo e protegendo outras pessoas que podem não ter tido a oportunidade de se vacinar ainda. Então, quando chegar sua vez, se vacine”.
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